sexta-feira

Pêssegueiro

Ô moça, porque queres que eu explique o que eu despejo todo dia em ti. Te colocarei dentro do aquário com o tempo nublado, mas como eu faria isso se é só tu quem nubla por estes lados? Me perguntas como se não soubesse as respostas com o ar de quem quer ouvir o óbvio sair da boca que mais enxuga as palavras. Se queres cortar lhe dou minhas veias, se queres companhia lhe dou meu tempo e ombro, se queres abraços eu quero também, se queres minha voz eu quero a tua, como têm precisado gritar lhe dou meus ouvidos. Mas o mordomo gosta de elogios, tenho feito teu café doce demais pra quem tem amargado com meu gosto. Posso te afogar (nos meus pesadelos) ou te ver andar sobre os laços e fitas (o que eu quero). E eu d'outro lado afogado. Não quero que o tempo abra, guriazinha. Não quero que a cidade pegue fogo nem inunde. Quero colher os pêssegos e enfeitar tua janela. Mas não posso por tu estar resolvida demais. Perco a árvore, os pêssegos e a moça bonita;

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