quarta-feira

A Cornélia o que é de César

Acabam agora as angústias do teu olhar,
Enchem-se de lágrimas sem dor os meus.
Respiro e suspiro aliviado pela última vez
Esvai-se da carne o sentimento e desejo composto por nossos corpos
Tento agarrar o ar que sai dos teus pulmões

Cai a noite
Vem e devora todas as certezas da mente
Trás contigo o vento e bagunça a sala tediosa
Esquece do que vivi e junto da noite vai
Não podes mais me tirar do peito o amor que não habita ali
Se sabes quem fui vê que sou mortal
E entende que o amor virou líquido e foi-se


Serei realista até que o real me prove o contrário
Te evito e evito assim as dores de mim
Só pra si, pensas em ti, que eu não mais pensarei
O que é meu é de mim, o que é de ti não me pertence
E quando a noite for não saberás mais quem sou

Olhos de jabuticaba;

Seria agora o momento ideal de fechar os olhos e o coração? Abrir a mente e esconder as lembranças que agora não ajudam, só estraçalham como uma tempestade tudo dentro de mim. Nada acabou, alguma parte aqui dentro desmoronou, talvez a parte que dava sustentação pra todas as outras coisas, nada que não possa ser reconstruído, do meu jeito. Sinto muito mas eu já disse que tentei de tudo, procurar nos escombros e tentar levantar as paredes do modo que elas eram antes... Mas a culpa não é minha se a arquiteta desse lugar de agora imenso vazio não quer mais fazer parte do momento mais doloroso que vem a seguir. Não quero continuar me culpando pra encontrar motivos e chegar perto de ti, encontrar culpas em mim onde não existem para amenizar o teu sofrimento. Pode sim, ir contra o que eu faço, mas é assim, agindo amando a mim antes de ti que eu devo seguir, mesmo que eu tenha que agir me enganado até terminar. Não nego o que eu sinto; Não renego quem sente algo por mim; Não quero ver teus olhos que tanto me fizeram amar outra vez, tão cedo.

segunda-feira

Morena

Eu deixo pra trás quando chego nessa hora. E ela tem razão quando diz o que diz, e eu ouço o que fiz. Tanto faz... E sei que não vou voltar, o que foi mudou o caminho do que podia ser. Eu deixo tudo assim quando nessa hora eu olho pra trás. E eles tem razão quando se calam e pra longe vão navegar. E ela tem razão quando meu ouve e esquece de vir me dizer que sente o que eu sinto. E só de pensar meu bem que d'eu tu não queres mais amor eu esqueço da praia e dos sonhos que sonhava de dia. Tu retrato pequena ainda aparece em todo lugar até quando a maré resolve virar. E eu que crio todo dia, outra morena, porque até quem eu invento pra substituir é igual a ti? Tantos caminhos e eu preciso andar um só, tento buscar alguém, e n'outro lugar eu espero o amanhã. Cade você? O dia chega assim, vem dizer que eu preciso sim de todo o cuidado que só ela sabe dar. Pra mudar o que eu fui. Não me acanho em chorar, se não sou eu agora quem diferente e indiferente a mim vai te roubar do meu amor? Vou levando e deixando tudo amorenar.

quarta-feira

"Um adeus tão frio e mais nada..."

Sinto tua falta só quando amanhece, depois de passar todas as noites dessas três semanas lembrando de como... Sabe? Lembrar do teu jeito e só poder rezar pelo teu bem, por isso cada dia mais evito cair no vício, na fraqueza de voltar correndo, largar tudo por tudo. "Passar um tempo fora é bom", pena que eu tive que gastar todo esse tempo de uma só vez. Não que eu não queira ter vivido contigo... É que eu queria nunca precisar me ver partir, não me ver mais sorrir sem teu colo, teu cheiro, teu beijo, tuas manhas, tua voz quando irritada. Não que eu não queira mais, é tudo por amor, a chegada e a partida. Tudo por amor até quando eu digo que prefiro esquecer. Toda vez que eu preciso fazer algo penso em como tu se sentiria, talvez por isso eu desista de cair em outros braços e abraços. Sinto tua falta só quando cai a noite, depois de passar o dia inteiro pensando como tu ta vestida, se acordou bem e se ainda pensa não em mim, em nós, antes de dormir.

terça-feira

Minha (não) despedida.

Tou na mesma escada, sabe? Tu sabe, e agora parece que ela ta maior, que tem mais degraus, porque quando nós passeávamos por ela parecia tão pouco os movimentos feitos para subir. Talvez os beijos abraços e risos ocupassem o espaço que me tirava a atenção da subida. E hoje eu queria te dizer que ainda tento evitar esses caminhos e esses lugares que eu costumava passar aos beijos e risos contigo. Mas só eles matam a saudade que eu sinto.

Me conforta pensar que tu também sente isso mesmo que em dias pareça que sou só eu quem sofro um pouco mais, que só pra mim existam esses lugares e essas lembranças. Mas teus pés sabem caminhar melhor sem os meus pra guiar o nosso rumo sem lugar onde chegar. Ouvindo as coisas que trocávamos durante o dia, dividindo as dúvidas e as quase certezas. Eram só essas conversas que eu gostava de ter.

Se eu levasse isso a fundo não poderia entrar nem na minha casa, na verdade eu já quase não consigo. Nem olhar no espelho, nem sentar na cadeira e olhar pra cama. Sentar aqui e ouvir músicas levantar e ir tomar água, talvez o banheiro seja o lugar que me traga mais paz, mais precisamente quando tomo banho e eu esqueço de tudo ou lembro de tudo e resolvo comigo mesmo -eu no meu forte- se quero gritar eu grito, se quero chorar eu choro, sou e faço tudo ter dado certo. Nem que seja só por um banho, mesmo que seja impossível.

Mas agora eu vou pro lugar que mais me lembra de ti e o engraçado é que nunca fomos nele, em qualquer poltrona de ônibus, indo pra bem longe. Eu, sem você, e a gente tão perto. E se eu sofro mais agora tudo bem. Se eu não durmo olhando a paisagem mudar me deixando mais longe de onde eu (não) quero esquecer, tudo bem. Mas não me de oi sem dizer meu amor, porque só de ouvir teu nome eu sinto vontade de entrar na casa que eu vou abandonar pra tentar (não) te esquecer sabendo que eu só vou lembrar. Então imagine se eu sentisse teu cheiro.

quinta-feira

Tchau radar.

Não aguento mais, não aguento que tu aperte esmague pise e ponha na máquina de moer carne o meu coração.
Não aguento ouvir tuas mentiras, ouvir tuas verdades soando mentiras, não aguento nem tuas verdades mais.
Não aguento querer caminhar mas não tirar os pés do chão onde pus raízes na frente da tua casa.
Não aguento dormir chorando e acordar afogado nos teus olhos, não aguento te ver cuspindo palavras a toa.
Não aguento como não podes fazer se eu que sou eu pude, não aguento não conseguir fingir mais agora.
Não aguento te ouvir dizer uma coisa ao amanhecer outra ao entardecer e voltar tudo de novo ao anoitecer.
Não aguento em estado sóbrio. Despejo e caio embriagado, não lúcido não aguento menos ainda.
Não aguento por teu nome em cada rótulo de garrafa que eu termino, não aguento pegar outros copos.
Eu não aguento entrar na tua dança de cigana, eu não aguento não conseguir levantar acampamento.
Eu não aguento ser sincero de mais, eu não aguento não conseguir ser solitário de novo.
Eu queria aguentar, mas eu não consigo.
Queria poder não aguentar ficar contigo, não aguentar te amar. Mas eu não aguento é ficar sem ti.
Não aguento ficar aqui sem ti, não aguento não ter pra onde ir, mas eu tenho e isso eu aguento.
Um dia quem não vai aguentar vai ser tu.

sexta-feira

Pêssegueiro

Ô moça, porque queres que eu explique o que eu despejo todo dia em ti. Te colocarei dentro do aquário com o tempo nublado, mas como eu faria isso se é só tu quem nubla por estes lados? Me perguntas como se não soubesse as respostas com o ar de quem quer ouvir o óbvio sair da boca que mais enxuga as palavras. Se queres cortar lhe dou minhas veias, se queres companhia lhe dou meu tempo e ombro, se queres abraços eu quero também, se queres minha voz eu quero a tua, como têm precisado gritar lhe dou meus ouvidos. Mas o mordomo gosta de elogios, tenho feito teu café doce demais pra quem tem amargado com meu gosto. Posso te afogar (nos meus pesadelos) ou te ver andar sobre os laços e fitas (o que eu quero). E eu d'outro lado afogado. Não quero que o tempo abra, guriazinha. Não quero que a cidade pegue fogo nem inunde. Quero colher os pêssegos e enfeitar tua janela. Mas não posso por tu estar resolvida demais. Perco a árvore, os pêssegos e a moça bonita;